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Calhandra-do-ilhéu-Raso Alauda razae

À primeira vista esta pequena ave de cor uniformemente acastanhada passaria facilmente despercebida, tratando-se contudo de uma das espécies de passeriformes mais raras do Mundo.

  • Estatuto de conservação
    Estatuto de conservação

    Criticamente em Perigo

  • Habitat
    Habitat

    Arbustivo

  • Distribuição
    Distribuição

    Ilhéu Raso e ilha de Santa Luzia (desde Abril 2018).

  • Tamanho
    Tamanho

    Comprimento 12-13 cm

  • Peso
    Peso

    20-24 g

Endemismo
Espécie endémica do ilhéu Raso. Apesar de extremamente adaptada ao ambiente desértico, a população é muito vulnerável às alterações climáticas e a fenómenos de seca extrema, uma vez que depende das chuvas sazonais para se reproduzir. Em 2004 esses fenómenos levaram-na perigosamente perto da extinção, com a população decrescendo para menos de 100 indivíduos. Apenas em 2010, a tendência negativa se reverteu e a população cresceu, mantendo um ritmo estável ascendente até o último censo de 2017 apontar para cerca de 1500 efetivos. Historicamente a calhandra existiu nas ilhas de São Vicente, Santo Antão e Santa Luzia, mas a presença humana levaram-na a desaparecer e a confiná-la ao ilhéu Raso, um ilhéu rochoso, pouco acessível e árido com apenas 5.8 km2.

Morfologia
Passeriforme, maior que o pardal-de-terra, com coloração castanho-amarelado com pintas pretas, e barriga clara uniforme, camuflando-se no solo árido do ilhéu.

Comportamento e Alimentação
Pode ser encontrada em baixa altitude ao longo das planícies de solo arenoso vulcânico que sustentam as poucas plantas perenes no ilhéu Raso. Os machos alimentam-se essencialmente de pequenos bolbos, que escavam com o seu bico forte e encontram junto à raiz das plantas perenes, enquanto as fêmeas alimentam-se maioritariamente de sementes e invertebrados encontrados no solo, o que poderá explicar a diferença de tamanho nos bicos como uma adaptação para diminuir a competição por alimento entre sexos num ambiente árido. Fora do período reprodutor, os indivíduos tendem a formar bandos, a distribuírem-se e a explorarem a totalidade do ilhéu.

Reprodução
A reprodução da Calhandra-do-Raso é errática, dependente das chuvas e apenas metade do ilhéu Raso reúne as condições adequadas à reprodução. Dependendo da disponibilidade de alimento e das chuvas, a postura varia entre 1 a 3 ovos incubada exclusivamente pela fêmea. Durante a incubação, a Calhandra-do-Raso tem como predador natural a osga gigante do Raso outro endemismo do ilhéu, que se alimenta dos seus ovos. Aquando da eclosão, a sobrevivência até à idade adulta é alta e acredita-se que tenham uma longevidade elevada.

Ameaças
A seca e a introdução de espécies nas ilhas desertas são a sua maior ameaça, reduzindo o número populacional a valores bastante preocupantes.

Curiosidade
A espécie foi recentemente reintroduzida em Santa Luzia, onde os registos fósseis indicavam a sua presença no passado, desaparecendo devido à introdução de gatos no ilhéu. Após a erradicação dos gatos, a Biosfera conseguiu reintroduzir a espécie novamente com sucesso, havendo já muitas crias nascidas em Santa Luzia desde 2018.

Notícias:

Ground-breaking reintroduction for Cabo Verde's most threatened bird, (Reintrodução pioneira para a ave mais ameaçada de Cabo Verde) - Birdlife International (Julho 2018)

O trabalho da Biosfera

Dado a sua distribuição bastante limitada e por fazer os seus ninhos no chão, esta espécie é extremamente sensível à pressão humana e à introdução de predadores não nativos como ratos ou gatos pelos pescadores.

Para resgatá-la do perigo eminente de extinção a Biosfera em conjunto com parceiros internacionais (Universidade de Cambridge, RSPB, BirdLife International e CEPF), desde 2013 que tem vindo a conduzir e a elaborar vários estudos que visaram ultimamente a translocação e reintrodução da Calhandra-do-Raso em Santa Luzia, uma ilha de 35 Km2 onde outrora existiu. Este passo foi dado em Abril de 2018, com a translocação de 37 indíviduos para Santa Luzia e posterior reforço da população em Março de 2019. Esta reintrodução tem sido um sucesso, uma vez que logo em Julho de 2018 houve registos de nidificação confirmada com avistamentos de juvenis não voadores, um passo essencial para garantir a sustentabilidade populacional da espécie em Santa Luzia.

Desde a sua reintrodução que a Biosfera tem seguido de perto os indivíduos marcados com anilhas coloridas, recolhendo dados importantes como uso de habitat, para avaliar a adaptabilidade dos indivíduos à sua nova casa.