Das ilhas ao arquipélago
A Biosfera, sediada no Mindelo, na ilha de São Vicente, está a desenvolver as suas acções de conservação de espécies e ecossistemas principalmente nas ilhas desertas e protegidas de Santa Luzia, Raso e Branco, em estreita colaboração com a Direcção Nacional do Ambiente.
No entanto, muitas actividades de investigação, sensibilização e mobilização dos cidadãos são organizadas nas outras ilhas do Barlavento (São Nicolau e Santo Antão), bem como em todo o território nacional.
Santa Luzia
Com uma área de 35 Km2, Santa Luzia é a maior ilha do complexo das Ilhas Desertas. Habitada no passado, mas atualmente deserta, os pescadores são a presença mais frequente, usando-a como porto de abrigo durante as excursões de pesca. Com um clima árido e seco, Santa Luzia alberga espécies únicas para Cabo Verde sendo um dos principais focos de intervenção no terreno da Biosfera. A ONG segue com regularidade a reprodução da Tartaruga-comum, leva a cabo ações de remoção de lixo costeiro, monitoriza o sucesso da reintrodução da Calhandra-do-ilhéu-Raso, desenvolve ações de controle de espécies invasoras para proteção da sua biodiversidade e promove e apoia logisticamente todos os trabalhos científicos que abarcam não apenas espécies terrestres endémicas (ex. osgas) como marinhas (ex. tubarão).
Raso
Foi o primeiro local de trabalho da Biosfera, que acampou no ilhéu em 2006 para impedir o massacre de aves marinhas. Raso possui uma das mais importantes colónias de aves marinhas em Cabo Verde, com 6 das 9 espécies que aí se reproduzem, nomeadamente a Cagarra, o Pedreiro, o João-Preto, o Pedreirinho, o Rabo-de-Junco e o Alcatraz. De 5,8 km2, foi, até 2018, a única casa de uma das aves mais ameaçadas do mundo, a Calhandra-do-ilhéu-Raso. As suas planícies áridas albergam várias espécies únicas de répteis terrestres, a maioria das quais são espécies ameaçadas que requerem intervenção urgente.
Branco
A Biosfera tem vindo a realizar algumas atividades de conservação com aves marinhas. Das nove espécies de aves marinhas reprodutoras de Cabo Verde, 5 delas podem ser encontradas no Branco: o Pedreirinho, o João-Preto, o Pedreiro-Azul, a Cagarra e o Pedreiro. Durante as estadias no ilhéu sempre se faz a montagem de redes verticais para a captura/recapturar de aves marinhas e anilhagem aleatória das mesmas, tirando sempre, que possível, as medidas biométricas como o comprimento da asa e do tarso, e o peso. Também foi colocado alguns gravadores automatizados na parte norte do ilhéu, para deteção de vocalização das aves ou para descobrir novas colonias. Todas essas atividades serão replicadas anualmente para melhorar o conhecimento biológico destes animais e no final elaborar o melhor plano de gestão e conservação das aves marinhas.
São Vicente
Ilha da cultura musical e artística cabo verdiana, São Vicente foi na realidade das últimas ilhas a ser colonizada devido à falta de água potável. Esta ilha destaca-se pelas suas inúmeras praias entrecortadas pela paisagem de montanha e extintas crateras vulcânicas.
São Vicente é a sede da Biosfera, o nosso centro de acção e portanto onde esta tem feito mais trabalho com as comunidades. Desde palestras em escolas e universidades, exposições itinerantes, eventos culturais, campanhas de lobby na televisão e rádio, recolha e salvamento de animais selvagens, a Biosfera continuamente marca a sua presença para divulgar, amplificar e inspirar a população local para a protecção dos seus valores naturais.
São Nicolau
Ilha de nostalgia cantada por Cesária Évora no seu estrondoso sucesso musical “Sodade”, São Nicolau destaca-se pela sua paisagem montanhosa muito variada que contrasta com o seu passado arquitectónico. Distingue-se das restantes ilhas pelo seu potencial agrícola e pela presença marcada das imponentes árvores dragoeiro, uma espécie típica das ilhas da Macaronésia, considerada rara e em vias de extinção. Aqui a Biosfera trabalha em exclusivo com as crianças e adolescentes onde em inícios de 2019 visitou várias escolas de São Nicolau, que ficaram a conhecer a cagarra Edu e a sua história. Desde 2017 que São Nicolau recebe também a visita de técnicos da ONG para trabalhos regulares (censos, monitorização) com as espécies de aves marinhas nidificantes na ilha.
Santo Antão
De paisagem verdejante e luxuriante alimentada pela névoa quase eterna das montanhas, Santo Antão é um dos pólos agrícolas mais importantes para o arquipélago. Trabalhando quase em exclusivo com as comunidades, as acções de sensibilização iniciaram-se com os pescadores de Sinagoga aquando a criação da ONG, pelo o facto de serem a comunidade que mais caçava aves marinhas no Raso. Após esta intervenção, estas actividades cessaram e os antigos caçadores de Cagarra-de-Cabo Verde transformaram-se nos seus protectores, integrando os vários trabalhos de monitorização da espécie. Em 2019, os mais pequenos receberam a mascote da ONG, a Cagarra Edu, nas suas escolas para saber mais sobre as aves marinhas de Cabo Verde. Desde 2017 que os técnicos da ONG desenvolvem trabalhos regulares de monitorização e censos populacionais das espécies de aves marinhas nidificantes na ilha.